OVERTOURISM

Entenda como o excesso de turistas pode afetar seu destino

O excesso de turistas procurando visitar sua localidade turística pode a princípio parecer um ponto positivo. O grande fluxo de pessoas dispostas a trazer receita para o município de fato não parece uma opção ruim, ainda mais devido à falta de atividade turística decorrente do isolamento social causado pela COVID 19 nesses últimos anos. Mas você conhece quais são os riscos que essa superlotação pode trazer para sua cidade?

Os profissionais de turismo têm a obrigação de compreender as consequências negativas que a atividade turística pode causar nos destinos. É necessário se atentar às situações em que esses indicadores de capacidade podem exceder os limites físicos, ecológicos, sociais, econômicos ou políticos daquele município.

Overtourism é o nome que se dá ao fenômeno que representa o impacto negativo do turismo em um destino, ou em partes dele, que afeta excessivamente a percepção da qualidade de vida dos cidadãos e a qualidade das experiências dos visitantes de forma negativa.

Entende-se por overtourism não necessariamente o excesso de pessoas, mas sim quando excesso afeta o setor público e a qualidade de vida aos moradores locais

Se você quer conhecer soluções indicadas por profissionais para esse problema que tanto afeta diversos destinos turísticos no mundo, acompanhe essa leitura!

IMPACTOS GERADOS PELO OVERTOURISM

Como vimos anteriormente, o overtourism não diz respeito apenas sobre o número de visitantes em uma determinada localidade, mas sobre a capacidade de gerenciá-los. Existem cidades que conseguem lidar com um grande número de turistas sem ter que enfrentar esse impacto, enquanto existem outras localidades que lutam com muito menos visitantes.

O overtourism não é um problema exclusivamente do setor. Ele pode ser percebido quando os recursos e infraestrutura de uma cidade estão  sob pressão, ou partes dela. No entanto, não são apenas turistas que fazem uso destes serviços, os moradores locais também competem pelo uso do espaço com quem está temporariamente visitando a cidade.

Além disso, problemas frequentemente associados a esse fenômeno, como por exemplo o aumento da especulação imobiliária, não dizem respeito apenas ao setor de turismo. Solucionar o problema de overtourism é uma questão muito mais complexa do que comumente reconhecido, portanto, deve ser tratado de uma maneira abrangente dentro do município.

Dentre muitos dos impactos gerados pelo overtourism, podemos identificar a perda de qualidade de vida aos moradores e turistas deste município através do:

  • Aumento da criminalidade e assalto aos turistas;
  • Desvalorização cultural e depredação ambiental;
  • Horários culturais não respeitados (presente em cidades interioranas onde a partir de certo horário geralmente não há barulho);
  • Aumento da poluição sonora;
  • Problemas de falta de água e eletricidade;
  • Trânsito e superlotação nos transportes públicos;
  • Alta especulação imobiliária;

UM ACIDENTE RECORRENTE

Além de todos esses impactos já citados, a má infraestrutura e não planejamento das atividades turísticas no município, pode implicar na segurança desses visitantes. Vamos conhecer um acidente que demonstra como a falta de estratégias do destino pode implicar na vida dos turistas,

Conforme a reportagem escrita pelo G1, Amanda Ferreira, de 44 anos, morreu afogada em um naufrágio no mês de setembro do ano passado, na represa de Jurumirim, localizada em Avaré (SP). A vítima afundou em um trecho do rio de aproximadamente 20 metros de profundidade.

De acordo com a Polícia Civil, o acidente aconteceu devido a superlotação da lancha, que possuía capacidade apenas para sete pessoas, porém na ocasião, estava sendo utilizada por 12 pessoas. A reportagem relata que na época, o piloto chegou a confessar à polícia que a embarcação tinha mais pessoas que o permitido e que ninguém estava protegido com coletes.

Isso implica na falta de planejamento, de capacitação e fiscalização nas atividades que acontecem no destino. É ideal que o gestor público esteja ciente das práticas turísticas que são realizadas no seu município, assim como, que ele seja responsável por assegurar que sejam realizadas dentro de normas de segurança.

COMO O PODER PÚBLICO PODE AJUDAR A SOLUCIONAR ESSE PROBLEMA?

ENTREVISTA COM ALAN GUIZI

Agora que conhecemos os efeitos que o overtourism e como a falta de planejamento podem afetar o destino e impactar a vida desses visitantes, vamos conhecer quais iniciativas podem servir como solução para esse fenômeno.

Para nos ajudar a compreender mais sobre como o poder público pode encontrar caminhos para lidar com overtourism, convidamos para uma entrevista Alan Guizi. professor de Turismo e Hotelaria da Universidade Anhembi Morumbi, Alan atualmente é doutorando em Turismo pela Universidade de Aveiro (Portugal) onde seu tema de estudo se baseia em overtourism em relação aos turistas e residentes em ambiente urbano.

Para Alan, o secretário de turismo tem o dever de participar ativamente em parceria com as empresas do destino na solução de conflitos que possam ser encontrados dentro do setor. Como primeiro passo, o poder público deve estabelecer linhas de planejamento turístico. Deve fazer parte da função do gestor obter um plano municipal de turismo que obtenha informações necessárias para controle interno.

Bombinhas - Taxa de Preservação Ambiental (TPA)

A cidade de Bombinhas – SC está localizada no litoral centro – norte de Santa Catarina. Concentra, neste pequeno espaço, algumas das mais belas praias brasileiras. O município é constituído por morros, recobertos pela Mata Atlântica, e planícies costeiras.

Bombinhas se utiliza da cobrança de taxas de turismo para preservação, manutenção e apoio à sustentabilidade do patrimônio turístico natural do destino. Para que, assim, os turistas entrem e se utilizem dos equipamentos e da infraestrutura durante o período de alta temporada de forma mais controlada.

Segundo a Lei, os recursos arrecadados com a Taxa de Preservação Ambiental (TPA) são aplicados em infraestrutura ambiental, educação ambiental, conservação e preservação do meio ambiente com seus ecossistemas naturais, limpeza pública e ações de saneamento.

Essa iniciativa implica também no controle do fluxo de turistas pelo poder público, uma vez que a taxa possibilita o dimensionamento de pessoas que acessam o destino.

Descentralizando focos turísticos

Quando o assunto é overtourism, o ideal é que o poder público defina o planejamento de fluxo turístico. É importante documentar quais são os atrativos mais populares do destino e quantos turistas esses locais comportam adequadamente. Outra possibilidade é realizar estudos sobre capacidade de carga, onde o gestor consegue identificar a partir de projetos e parceria, qual a quantidade ideal de visitantes para sua cidade. Não é o caso de impossibilitar a entrada de turistas no município, mas sim preparar a cidade para a hora em que o fluxo de pessoas seja maior do que o adequado. Para Alan Guizi, o diálogo e as campanhas de sensibilização são essenciais para a conscientização dos moradores locais sobre a importância do turismo, para que, possam ser feitas ações para a gestão de fluxos.

 

A partir do momento em que o poder público reconhece a capacidade do seu município, a secretaria estará preparada para lidar com essa questão. Esse é o momento de pensar em alternativas de escape de visitantes nos atrativos mais populosos do seu destino.

GESTÃO PÚBLICA

São diversos os caminhos que os gestores podem escolher. Uma solução apresentada por Alan, que já é utilizada por cidades do litoral de São Paulo, é descentralizar os atrativos mais populares da cidade criando novas possibilidades para o turista escolher. Santos, no litoral de São Paulo, optou pela criação de rotas alternativas para enaltecer os atrativos do centro da cidade. Em sua estratégia de planejamento turístico, não vendem somente as praias como atração principal. O uso de roteiros gastronômicos também pode ser uma solução para seu destino turístico.

De acordo com Alan Guizi, criar um calendário de eventos ao longo do ano interfere no fluxo de turistas. Essa ação visa distribuir os visitantes para o destino não somente em períodos de alta temporada. Ou seja, o objetivo é trazer pessoas para o município em diversas partes do ano.

Criar parcerias com outras cidades da região que estejam interessadas em melhorar seu potencial turístico também pode ser uma boa alternativa para o poder público. Estabelecer linhas de transporte intermunicipais que facilitem a locomoção do visitante dividirá o fluxo de turistas que comumente ocupariam apenas um município da região.

É importante lembrar que essas medidas não são as únicas soluções possíveis.

Cabe a cada gestor estabelecer o planejamento turístico com as estratégias locais para melhorar a infraestrutura e os equipamentos turísticos do seu município a fim de que eles garantam a boa qualidade de vida e a segurança tanto dos moradores do destino, como também dos turistas que visitam a cidade.

Especialistas em segurança no turismo, nós da Férias Vivas Consultoria podemos ajudar com o mapeamento de possíveis vulnerabilidades, oferecendo diversas soluções apropriadas para seu destino.

Sobre a consultoria

Silvia Basile

Constituímos, em 2002, a Associação Férias Vivas que já trabalhou na elaboração de 41 Normas Técnicas ABNT NBR de Turismo de Aventura, sendo 17 Normas Técnicas internacionais ABNT NBR ISO. Junto com embaixadores e parceiros, criamos assim padrões de qualidade e segurança nas atividades de turismo no Brasil. Em 20 anos de atuação na área de conscientização e prevenção de acidentes no turismo, esta vivência proporcionou aos consultores da Associação Férias Vivas a capacidade analítica e a experiência prática para a implantação de projetos de gerenciamento de risco em destinos de turismo. Nossa articulação com o setor público se faz eficaz ao comprovar que iniciativas de sensibilização e gestão da segurança são essenciais para o desenvolvimento responsável do turismo.

  • sbasile@feriasvivas.org.br